Olá Pessoal. Aproveitando o gancho de semana passada sobre métodos de otimização (que tem muito a ver com o mercado de trabalho) eu gostaria de falar essa semana sobre um assunto que me bombardeou no começo de junho: A Educação para o Século XXI.
Nos dias 05 e 06 de junho eu participei do evento Bilingual Education Summit – BEST 2018, considerado o maior encontro de educação bilíngue da américa latina. A princípio pode soar estranho um professor de Física ir a um evento de educação bilíngue, mas creio que com essa e as próximas publicações, fique mais claro como minha ida a este evento fazia (e fez) muito sentido. Enfim, mais sobre o evento depois, no momento o que quero falar aqui é sobre a temática que permeou todo o evento que foi: “As Dimensões da Educação no Século XXI” e como esse tema demanda reflexões importantíssimas. E antes de chegar a essas reflexões precisamos de um pouco de contexto.
Que vivemos em mundo em constante evolução e bombardeado de informações e inovações (nem todas boas) por todos os lados, não é novidade e já falei sobre isso aqui. O que talvez muita gente não saiba é que, segundo diversas análises, estamos no meio do que seria a quarta revolução industrial. E isso, que a maioria dos pesquisadores chama de quarta revolução industrial (ou indústria 4.0) é a automação inteligente, ou seja, máquinas com capacidade de interagir e aprender para responder de modo cada vez mais personalizado, tornando certas profissões obsoletas.
Já temos atendimento online de empresas de telecomunicação, vendas e demais prestadores de serviço que colocam os clientes em um chat com uma inteligência artificial (bots) pré-programada, e muitos clientes sequer percebem que não estão interagindo com uma pessoa. Existem inúmeros aplicativos com elevada capacidade de interatividade e personalização e já temos carros com piloto automático sendo testados. Para saber mais sobre o assunto, o canal Nerdologia (que já citei aqui) tem dois vídeos bem interessantes nessa temática (este e este), onde ele recomenda o excelente livro “A Segunda Era das Máquinas” que dá um panorama geral deste cenário, sua possível evolução e como tudo isso pode transformar a sociedade, eliminando empregos e criando novas funções.
A partir daí é comum se especular quais seriam as profissões do futuro, sabendo que este futuro tem chegado cada vez mais rápido. Nessa temática, eu sigo a tendência de que não faz muito sentido especular sobre as profissões do futuro porque, dada a velocidade de evolução e transformação, muitas delas não existem e são sequer imagináveis. Como essa matéria sugere, estima-se inclusive que 85% das profissões que vão surgir com o avanço tecnológico até 2030, não existem hoje. Assim, a meu ver, mais importante do que se questionar sobre as profissões do futuro, seria se perguntar qual é o profissional do futuro? Que tipo de preparação compõe o perfil profissional que melhor vai se adaptar a este mercado altamente tecnológico, automatizado, veloz e em constante transformação?
E aí entramos no ponto que eu quero tocar nessa e nas próximas publicações que é: Qual o papel da educação neste cenário? Como o sistema educacional pode compreender as questões que surgem neste contexto para atuar de modo a promover uma educação seja eficiente, significativa e que tenha valor na construção do indivíduo tanto para o mercado de trabalho quanto para a vida em sociedade?
Essa reflexão é longa e complexa e de modo algum pretendo esgotá-la aqui. Meu propósito é apenas apresentar algumas informações através de reflexões/provocações que acredito serem pertinentes ao tema. Do modo que vejo, essa situação pode ser analisada a partir de 6 grandes reflexões que pretendo explorar de maneira mais detalhada nas próximas publicações. Por hora vou apenas apresenta-las e deixa-las em aberto (por favor, não me odeie):
A tecnologia que trouxe as redes sociais é a mesma que pode nos distanciar. Principalmente se temos um processo tecnológico que permite cada vez mais que os indivíduos se isolem em bolhas sociais. Os índices de estresse e depressão entre jovens e adolescentes tem crescido e é preciso refletir sobre como a educação se insere nesse contexto? As ferramentas e inovações vem para automatizar o processo de modo geral ou permitir maior personalização? Como cuidamos para valorizar o indivíduo? Como podemos ir além da mera reprodução de conteúdo e da visão propedêutica? É possível trabalhamos valores, além dos conteúdos? E assim partimos para a segunda reflexão que é:
Qual a finalidade da escola e, mais precisamente, da educação básica? O que queremos do jovem que formamos em nosso sistema educacional? Temos instituições de ensino ou de aprendizado? Devemos preparar o indivíduo para concursos, para a vida em sociedade ou ambos? Como preparamos o aluno (e nós mesmos) para lidar com as inovações desse mundo que evolui aceleradamente? Nesse contexto, muitas propostas têm surgido e com ela a necessidade da próxima reflexão.
Recentemente tivemos uma avalanche de novas propostas e metodologias que confesso que nunca vi igual. Algumas interessantes e promissoras, outras nem tanto, e aí é preciso pensar sobre as inovações com certa cautela. Afinal, toda inovação é boa? O novo, simplesmente pelo fato de ser novo é, necessariamente melhor? Ao mesmo tempo podemos dar um passo atrás e pensar na própria definição de inovação. Inovar em educação é necessariamente usar gadgets e simuladores em sala de aula? Ou seria possível inovar simplesmente questionando o processo/sistema? E, neste caso, invariavelmente, chegamos à terceira reflexão:
Já falei um pouco aqui sobre o que acredito que seja o papel do educador, mas revisando o assunto agora, creio que vale ainda mais a pergunta: Qual o papel do professor/educador nesse cenário? Estamos capacitados para lidar com essas novas demandas? Será que estamos prontos para lidar com tantas mudanças como indivíduos e/ou como educadores? Ao mesmo tempo é importante considerar o mercado onde o professor atua. Será que esse mercado compreende esse papel em sua gestão/organização? Será que a remuneração e valorização do profissional condiz com essa demanda ambiciosa? Como o professor pode se adaptar a um novo formato se o sistema não considerar isso ao estabelecer suas atribuições? De todo modo, em um mundo com constante transformação, fica clara a necessidade de uma formação continuada, o que nos traz a penúltima reflexão.
Dentro deste contexto é preciso analisar cuidadosamente as licenciaturas pelo país com a seguinte pergunta em mente: O professor chega ao mercado preparado para atuar em um cenário em constante transformação? A academia e as universidades dialogam com essas novas demandas da sociedade e do mercado? Além de metodologias atuais e inovadoras, as licenciaturas capacitam os professores para o autodidatismo? Para a otimização de tempo e produtividade? Há mecanismos para capacitação/formação continuada? E, neste contexto da formação docente, não podemos deixar de falar das entidades de classe e os concursos de vestibulares pelo país, o que nos leva à sexta e última reflexão que proponho.
Será que os currículos (que se retroalimentam com os vestibulares e ENEM) não acabam por engessar boa parte do processo e das mudanças propostas? Será que a forma como são estipulados e cobrados os conteúdos hoje em dia, dialoga com as demandas políticas, sociais e econômicas de uma sociedade em evolução tecnológica acelerada? Será que as ementas curriculares atuais capacitam o jovem brasileiro para um cenário que ainda será desenhado? Será que há espaço para trabalhar inteligência emocional, autonomia didática, responsabilidade social e empreendedorismo em meio a tantos conteúdos programáticos?
Bom, nas próximas semanas pretendo abordar cada uma dessas 6 grandes reflexões de modo detalhado, trazendo algumas informações, dados e trabalhos que tenho encontrado a respeito. Como sempre espero ter contribuído e até a próxima semana.
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