METODOLOGIAS ATIVAS

Olá pessoal. Embora possa parecer um pouco cedo para começar a fazer séries aqui no site, decidi começar uma sobre “Metodologias Ativas”. Isso porque neste ano de 2017 tive oportunidade de trabalhar algumas dessas metodologias em sala de aula, e o resultado observado foi muito bom! Os alunos ficaram mais engajados e motivados, e o ganho acadêmico foi bem perceptível. Por isso, decidi aprofundar mais os estudos que havia iniciado no começo do ano sobre o assunto e a partir daí, fui descobrindo tantas coisas que nasceu a ideia desta série.

Metodologia-AtivaBom, primeiro vou esclarecer o que são as “metodologias ativas”, em que contexto surgem, sua fundamentação teórica e aí farei uma lista das principais. Nos próximos posts pretendo abordar uma a uma de forma mais detalhada. É claro que há uma vasta literatura sobre o tema envolvendo artigos, livros, dissertações e teses espalhados por mais de 5 décadas. O que faço aqui é um compilado sobre o assunto a partir do material que tive contato, que espero que possa contribuir de alguma forma na introdução de quem se interessa pelo mesmo. Então, comecemos por estabelecer o que são metodologias ativas.

Pensando-Ativamente-Educaçao

As comumente chamadas de metodologias ativas de ensino são técnicas e metodologias que visam trazer os princípios do “Active Learning”, ou Aprendizagem Ativa, para o ambiente tradicional de sala de aula que todos nós estamos acostumados a trabalhar. Mas então, o que são esses princípios do Aprendizado Ativo? A seguir, eu vou descrever com mais detalhes, mas basicamente estabelecem um processo de ensino/aprendizado que consiste em colocar o aprendiz no protagonismo do processo. Nesse caso, o professor assume um papel mais de planejador, mediador e orientador do que de executor e aí nasce o primeiro desafio para se implementar/adotar essas metodologias em sala. Como professores, não estamos muito acostumados a ceder o protagonismo nas aulas.

O próprio sistema no qual aprendemos e estudamos no último século, e para o qual fomos treinados para atuar como docentes, é todo construído tendo o professor como protagonista do processo de aprendizagem, fornecendo o conhecimento determinado necessário, no ritmo e método que mais achar conveniente de acordo com suas experiências e contexto. Vencido este desafio (que não é pequeno e, por isso, vou revisitar no fim) passemos às ideias do Aprendizado Ativo e como as metodologias ativas podem ajudar.

PRINCÍPIOS E BASE – ACTIVE LEARNING

A ideia da Aprendizagem Ativa tem sido muito reforçada nas últimas décadas por estudos que sugerem maior eficiência na atuação ativa do aprendiz durante o processo. Isso é até um pouco intuitivo se considerarmos o aprendizado de qualquer habilidade prática, como tocar um instrumento. Podemos assistir a inúmeros shows, concertos e tutoriais sobre escalas e notas no violão, por exemplo, mas sem o contato e prática ativa com um instrumento físico não há aprendizado.  E embora isso seja intuitivo para aprendizagem de habilidades motoras (como tocar violão ou andar de bicileta), não é tão claro para habilidades mais cognitivas como, por exemplo, criatividade, pensamento critico e memorização de informações. Ainda assim, desde o início do século XX com trabalho de John Dewey, passando pelo construtivismo (corrente pedagógica desenvolvida a partir das obras de Jean Piaget em meados do século XX) existem inúmeros trabalhos e pesquisas que tem demonstrado a eficiência pedagógica do que tem ficado conhecida como “Aprendizagem Ativa” ou “Active learning”.

O livro do autor John C. Bean: “Engaging Ideas: The Professor’s Guide to Integrating Writing, Critical Thinking, and Active Learning in the Classroom ou “Ideias Envolventes: O Guia do professor para integrar a escrita, o pensamento crítico e a aprendizagem ativa na sala de aula” (tradução livre), sugere, com os seguintes princípios, que a aprendizagem ativa deve ser:

Proposital: A tarefa/conteúdo deve ser relevante ao contexto do aluno.

Reflexiva: Os alunos devem refletir sobre o significado do que deve ser aprendido.

Negociada: As metas e métodos de aprendizagem devem ser negociados entre professores e alunos.

Crítica: Os alunos apreciam formas diferentes de aprender um conteúdo.

Complexa: Os alunos comparam tarefas de aprendizagem com a complexidade de tarefas da vida real e com isso fazem análise reflexiva.

Orientada a situação: A necessidade de diferentes situações é usada para estabelecer tarefas de aprendizagem.

Envolvente: O cotidiano do aluno é trazido para tarefas e refletido na atividade de aprendizagem para promover engajamento.

É importante ressaltar que todo esse processo de construção demanda uma base e, como alguns resultados mostram, tal construção não é eficiente para conhecimentos básicos e fundamentais. Isso porque este processo de construção do conhecimento depende de algum conhecimento prévio do aprendiz, onde ele é autoconsciente do processo de aprendizagem e pode controlá-lo e regulá-lo sozinho. Isso fica mais claro ao analisar alguns pontos da fundamentação teórica do método.

A ESTRUTURA CONSTRUTIVISTA PARA A APRENDIZAGEM ATIVA

Aprendizado-Social

Como este não é um post sobre psicopedagogia, vou apenas enumerar aqui alguns pontos importantes acerca da corrente que fundamenta o método. O aprendizado ativo coordena com os princípios do construtivismo que são, cognitivos, meta-cognitivos, evolutivos e afetivos na natureza. Assim, do ponto de vista construtivista, podemos destacar alguns aspectos do aprendizado relevantes para a aprendizagem ativa:

Aprendendo com a recepção significativa: Enfatiza-se o conhecimento anterior que o aluno possui e seu contexto e o considera um fator chave na aprendizagem.

Aprendendo com a descoberta: Promove-se um ambiente onde os alunos aprendem através da descoberta de ideias com a ajuda de situações fornecidas pelos professores.

Mudança conceitual: É a ideia que já falamos do “Aprendendo a partir do erro”, na qual à medida que os estudantes descobrem o conhecimento, sem qualquer orientação, deparam-se com equívocos comuns sobre o conteúdo. Os professores, conhecendo tais equívocos, guiam esse processo mantendo um controle avaliativo sobre o conhecimento construído pelos alunos.

Construtivismo social: Valoriza-se o trabalho de grupo colaborativo no âmbito das estratégias cognitivas, como questionamento, esclarecimento, previsão e síntese.

EXERCÍCIOS PARA APRENDIZAGEM ATIVA E METODOLOGIAS ATIVAS

A partir da ideia principal podemos perceber que há uma infinidade de atividades e exercícios que podem promover a Aprendizagem Ativa como: Discussões em classe, células de aprendizagem, exercícios de escrita e síntese, análise e reação a um vídeo/texto, jogos em sala, aprender ensinando, entre outros. Porém, com o modelo estrutural de sala de aula adotada na maioria das instituições de ensino, como os elementos da Aprendizagem Ativa podem ser inseridos na realidade atual? E aí surgem as “Metodologias ativas” que são o tema desta série. São técnicas que visam promover essa transição do modelo expositivo atual para o modelo ativo. As metodologias mais comuns com as quais tive contato e que irei abordar nesta série são: Aula Invertida, Ensino sob Medida, PBL – Aprendizagem Baseada em Problemas, Instrução por Pares, Ensinando Através do Debate, JigSaw, Aprendizagem Baseada em Projetos e Gameficação (já falei sobre aqui, de modo introdutório, mas decidi revisitar o assunto para tratar se modo mais aplicado a está temática).

Como disse no começo do texto, essa transição de metodologia de atuação envolve muitos desafios, sendo o primordial deles o desafio do docente de ceder o protagonismo. Como o Átila, do canal de ciência Nerdologia, disse em sua palestra Tedx: “Na maioria das vezes somos treinados para atuar como condutores de uma carruagem, na qual os alunos são colocados e decidimos onde leva-los e em que ritmo. Porém, no cenário atual, é cada vez mais necessário que atuemos como um GPS, indicando diferentes caminhos para o aluno chegar ao seu objetivo acadêmico, orientando e guiando o processo enquanto o mesmo executa seu trajeto.”

GPS-Carruagem

E isso não representa um enorme desafio apenas porque estamos inseridos, fomos educados e capacitados no modelo expositivo, mas também porque essa mudança de atuação de protagonista para planejador/mediador/orientador, implica no professor dedicando muito mais tempo fora de aula, no planejamento, do que dentro de sala, executando-a. E isso não condiz com a esmagadora realidade brasileira onde todo o sistema é projetado para considerar como a parte mais a importante do trabalho do professor a que ocorre dentro de sala de aula (sua própria remuneração considera isso, na maioria das vezes).

Porém, essa barreira pode ser vencida gradativamente, à medida que surgem projetos que reconhecem o trabalho necessário de planejamento de aulas e contemplam isso em sua estruturação, além de professores e iniciativas que visam realizar essa mudança, mesmo frente à realidade vigente. Espero que essa série ajude de alguma forma a promover essa mudança.

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