EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI – #2 – A HUMANIZAÇÃO

Olá Pessoal. Como escrevi nesta publicação aqui, recentemente participei de um evento cuja temática tem permeado as principais conversas atuais sobre educação: A Educação para o Século XXI. E discussões como essa sobre profissões do futuro, habilidades para o mundo moderno e novos paradigmas frente à constante evolução digital, estão cada vez mais presentes em periódicos, veículos midiáticos e eventos acadêmicos.

Na primeira publicação, onde falei sobre o evento e sua temática, e que me levou a pesquisar e escrever sobre o assunto, esclareci que, dada a complexidade do tema, os principais pontos dessa discussão poderiam ser bem contemplados através de 6 grandes reflexões que pretendia explorar de modo mais detalhado em publicações futuras. São elas: A humanização do processo, A Finalidade do Ensino, O valor das Inovações, O papel do professor, A formação Docente e Os Currículos.

Na publicação de hoje eu pretendo explorar a primeira reflexão – A Humanização do processo. Para começar, eu gostaria de sugerir o vídeo da palestra TED do humorista, palestrante e educador Murilo Gun intitulada “As Escolas Matam a Aprendizagem” como uma provocação.

Neste vídeo, Murilo fala sobre como o formato educacional praticado em larga escala no nosso cenário pode ser desmotivador, industrializante e conteúdista, de modo a minar a capacidade criativa do aluno ao invés de exercitá-la. Para ilustrar, ele apresenta o mito do gabarito, em que é proposto para o aluno um problema abstrato para o qual o professor tem uma resposta prévia esperada (o gabarito) e que, caso o aluno não dê a resposta esperada, ele é considerado errado, independente se a resposta dele tem lógica/sentido em sua construção.

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Por exemplo, o professor pede um aluno para desatarraxar um parafuso, o mesmo o faz usando uma moeda como ferramenta para torque e o professor considera errado porque ele esperava que o aluno usasse uma chave de fenda, já que a atividade era para verificar o uso desta ferramenta. Neste caso, a solução do aluno foi até criativa (usar uma moeda que tinha à mão), mas é ignorada porque não era idêntica ao gabarito, logo, o feedback dado ao aluno é negativo, desvalorizando a criatividade do estudante.

Esse tipo de exemplo ilustra algo evidenciado nos diversos exemplos de figuras históricas consideradas geniais que, em seus tempos de escola, tiveram um desempenho considerado “fraco”. Isso é o que alguns autores chamam de desumanização da escola, onde o foco conteúdista e procedural ignora os diversos talentos, contextos e anseios dos alunos frente ao currículo e aos testes padronizados.

Como o próprio Murilo Gun critica, um dos problemas da educação atual é que temos instituições de Ensino e não instituições de aprendizagem. Para mim, a diferença entre essas duas reside no foco: A primeira foca em estabelecer ementas, material didático e métodos para, então, receber e adequar os alunos a sua proposta, enquanto a segunda foca nos alunos, suas demandas e contextos e, em seguida, procura formas de auxiliá-los a obter aprendizado significativo.

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E, no contexto da formação do indivíduo para se tornar um profissional do Século XXI, esse foco no Ensino (e não na aprendizagem) pode gerar resultados bem desastrosos. Como a filósofa Viviane Mosé aponta em uma das diversas reflexões que faz nesse vídeo (recomendadíssimo), uma educação fragmentada e conteúdista, focada na memorização para testes e concursos, acaba por privar o indivíduo de qualquer preparo para a realidade social/profissional que vai enfrentar na vida adulta. Como disse o pesquisador em educação César Aparecido, em entrevista ao site porvir: “Eu acredito que nós precisamos ter não somente uma escola que avalie a memória e a capacidade de síntese das crianças para reter informações e transformá-las em desempenho para o trabalho, para o mercado”.

Afinal, em uma realidade onde os pais estão cada vez mais ocupados, com ambos trabalhando fora, é preciso ponderar a responsabilidade da escola em trabalhar elementos de valores e afetividade, indo muito além do conteúdo programático. Assim, argumenta-se que se busque uma humanização da educação para além de títulos e láureas, onde se trabalhe a maturação completa do indivíduo em suas necessidades intelectuais e socioemocionais.

Neste contexto, gostaria de destacar uma metodologia educacional que conheci no evento que motivou a temática desse post (o BEST 2018), que é a OPEE (Orientação Profissional, Empreendedorismo e Empregabilidade), do professor e psicoterapeuta Leo Fraiman. Fraiman ficou bem famoso após uma entrevista que concedeu sobre a “Síndrome de Jovem Imperador” e tem várias de suas palestras e vídeos no YouTube, onde fala bastante sobre educação e saúde mental de crianças e adolescentes (Recomendo muito seu livro “Como Ensinar Bem a Crianças e Adolescentes de Hoje”).

A metodologia OPEE (descrita brevemente neste vídeo), pelo que pude entender, compreende uma série de ações pedagógicas (acompanhada de material didático específico) que visam desenvolver, desde a educação infantil, um projeto de vida do aluno, focado no autoconhecimento, desenvolvimento de inteligência emocional, criatividade, empreendedorismo e empregabilidade. De modo geral, se trabalham valores como empatia, respeito, resiliência, disciplina, responsabilidade e determinação. Assim, em um primeiro momento se busca desenvolver desde a primeira infância a criatividade, o autoconhecimento e a inteligência emocional (capacidade de lidar com frustrações e construção de limites).

Em seguida, se trabalha gestão de tempo, construção de projeto de vida, autoconhecimento e escolha profissional. Por fim, já no Ensino Médio, se aprofunda a orientação profissional, empregabilidade (elaboração de currículo, projeção de carisma, postura em entrevista e afins) e empreendedorismo (noções de economia, construção de modelo de negócio e mercado de trabalho).

Bom, a partir dessas reflexões surge, inadvertidamente, a próxima ponderação fundamental ao se discutir a educação do Século XXI que é: Qual a finalidade do Ensino? Uma reflexão que, em tempos de BNCC, acaba se fazendo mais relevante do que nunca. Na próxima semana, pretendo aprofundar mais nessa reflexão trazendo alguns trabalhos bem interessantes que tenho lido. Como sempre espero ter contribuído e até a próxima semana.

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