METODOLOGIAS ATIVAS #3: APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMA (PBL)

Olá Pessoal. Mais uma semana se passa e seguimos na série sobre metodologias ativas. O tema desta semana é um dos meus favoritos pelo seu potencial para aulas de ciência. O método se chama “Aprendizagem Baseada em Problemas” ou “Problem Based Learning (PBL)” como é mais comumente conhecido (por isso vou usar a sigla “PBL” ao me referir a ele). Um pouco de história, o PBL nasceu no final da década de 1960, no curso de medicina da Universidade de McMaster no Canadá. O método visava aproximar os estudantes de situações problemas desde o início do curso visando desenvolver a lógica e a crítica para a prática da medicina.

A técnica tem sido amplamente estudada, aplicada e aprimorada desde então e já se consolidou como elemento virtualmente essencial em cursos de medicina mundo afora, inspirando até série de TV (House). Já sua aplicação em outras áreas e, principalmente, no ensino médio, tem sido relativamente recente. No Brasil, o método tem ganhado força nos últimos 10 anos com interessantes resultados como esse e esse.

House-Origem

O método consiste em guiar o processo de aprendizado através de um problema central a ser solucionado/trabalhado. Existem MUITOS (muitos mesmo) trabalhos entre vídeos, artigos e livros, que se dedicam a estruturar o método e seus princípios e eles variam um pouco entre si. Vou descrever aqui a estrutura que tem sido mais comumente aplicada no Brasil, principalmente no ensino médio.

O Problema

Problema-Educaçao

O problema pode ser algo proposto pelos próprios alunos, escolhido de uma situação clássica da disciplina ou inédito, elaborado pelo professor. Em todos os casos essa é uma parte fundamental para determinar o sucesso do PBL, uma vez que é o problema que vai estimular e cativar os alunos bem como estabelecer os caminhos pedagógicos a serem seguidos. Destaco aqui dois pontos sobre o problema.

1 – Deve ser simples e objetivo, evitando pistas falsas e/ou “pegadinhas” que desviem a atenção do grupo do tema principal. Um enunciado muito complexo pode levar a diversas “situações problema” secundárias não planejadas, desviando o foco dos alunos e dificultando a estruturação das ideias e do raciocínio central.

2 – Ser motivador e despertar o interesse do aluno pela sua discussão e resolução. Um bom problema deve propor situações reais e contextualizadas de modo que o aluno possa se relacionar e, sempre que possível, aplicar algum conhecimento prévio.

A Estrutura

Uma vez apresentado o problema os alunos devem ser divididos em grupos de, geralmente, de 8 a 10 alunos. Neste grupo temos 3 elementos de destaque: O Tutor, o Coordenador e o Secretário.

Trabalho-em-grupo

O Tutor (Pode ser o professor ou algum monitor) sabe a solução do problema, os objetivos com aquela atividade e pode atuar pontualmente para correções de percursos, sempre que sentir que o grupo está perdendo o foco.

O Coordenador (um dos alunos) deve administrar o tempo, liderar o grupo e a discussão, manter a dinâmica e o foco, estimular o debate e assegurar o cumprimento das tarefas e objetivos.

O Secretário (outro aluno) faz anotações necessárias e ajuda a organizar as ideias para a produção de um relatório. Isso permite otimizar a discussão e evitar repetições.

Estes cargos não são fixos e é aconselhável que eles variem a cada problema, dando a todos os alunos a oportunidade de atuar em ambos de modo a estimular diferentes habilidades como liderança, organização e síntese.

Estágios

Diferentes trabalhos estabelecem diferentes etapas. Porém, todos concordam com os 4 estágios essenciais.

PBL-etapas

1 – Introdução e definição do problema: A partir do enunciado do problema é feito um rápido Brainstorming para estabelecer qual é a situação problema que se busca resolver. Algum conflito que se precisa mediar, algum elemento fundamental de uma receita que se visa substituir, etc.

2 – Levantamento de hipóteses e propostas: Estabelecido o problema, é preciso elencar os diferentes tipos de soluções possíveis sem considerar habilidades necessárias. Nesta etapa, se determina uma série de conhecimentos que podem se fazer necessário e são estabelecidas metas de pesquisas a serem feitas. Por exemplo, se for um problema de substituir um elemento fundamental em uma receita (como açúcar ou ovo) é importante descobrir qual o papel químico daquele ingrediente na receita, como ele desenvolve este papel, o que mais possui tais elementos e poderia funcionar como substituto e assim por diante. Como muito dessas informações não são conhecimentos prévios dos alunos, é preciso pesquisa-las. E aí vem o próximo passo.

3 – Pesquisa: Estabelecidas as lacunas de conhecimento a partir das hipóteses, os alunos constroem um plano de pesquisa estabelecendo metas de aprendizado. Essa etapa pode ser feita em sala ou em casa dependendo do tamanho da atividade e do planejamento do professor. Aqui reside um dos pontos mais importantes e com maior potencial do método. Os alunos vão executar este plano de metas, fazendo, individualmente, pesquisas para compartilhar em grupo, debatendo as informações que adquiriram, bem como as fontes. Aqui podem ser feitas leituras, visitas de campo, entrevistas e afins.

4 – Debate e Conclusão: Os alunos apresentam ao grupo as informações que obtiveram em sua pesquisa individual a partir das metas estabelecidas. A partir daí ocorre um debate para se escolher a melhor solução para o problema e a síntese para elaboração do relatório.

Etapas intermediárias podem ser adicionadas para detalhar melhor o processo. Nesse vídeo os 4 estágios acima são divididas em 7 etapas, enquanto que nesse artigo o mesmo processo se divide em 10 etapas.

Porque Usar?

Vantagens-PBL

O método tem se mostrado muito eficiente porque:

    • Provoca a motivação;
    • Promove o conhecimento de novas áreas do saber;
    • Estimula a criatividade;
    • Impulsiona o pensamento crítico;
    • Fomenta as capacidades de análise, decisão e síntese;
    • Desenvolve as capacidades e competências de trabalhar em grupo e de gestão de stress.
  • Trabalho com estrutura do pensamento lógico como análise, justificativa, argumentação e estruturação do conhecimento.

Os resultados apresentados em trabalhos recentes indicam aumento significativo no engajamento, memorização e autonomia, além de melhoria de postura e disciplina.

Além disso, vejo o PBL como uma excelente ferramenta para o Ensino de Ciências Naturais. Eu pretendo abordar melhor a minha visão sobre o Ensino de Ciências da Natureza e seu papel nos dias de hoje, e o post já está grande, mas posso adiantar que o PBL permite uma aplicação/observação direta, prática e eficiente do método científico, de modo que em aulas de ciência o uso do PBL, além do conteúdo programático, pode ser usada para uma Educação Científica mais autônoma, eficiente e que extrapole os espaços de sala de aula. Falarei mais sobre no futuro próximo. Como sempre espero que tenha contribuído e até a próxima semana.

9 comentários em “METODOLOGIAS ATIVAS #3: APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMA (PBL)

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