Olá, pessoal. No post passado comecei a falar sobre a inteligência emocional e sua importância, não somente para um ambiente de aprendizado saudável, mas como habilidade fundamental para uma vida adulta eficiente e produtiva. Não à toa temos habilidades e competências socioemocionais incluídas na BNCC da educação básica.
Por isso, é cada vez maior o número de escolas e educadores que contemplam em sua prática pedagógica, atividades que visam auxiliar os alunos a desenvolver sua inteligência emocional. E uma etapa importante deste processo consiste em desenvolver melhor a nossa própria IE, incorporando-a ao nosso ambiente e prática docente. Assim, para essa segunda parte da publicação decidi compartilhar 4 sugestões de ações (que compilei a partir do livro do Daniel Goleman e de alguns outros artigos e fontes), que tem me ajudado bastante não só a lidar melhor com minhas emoções (desenvolvendo minha IE), como também a promover um ambiente pedagógico mais propício para desenvolver a IE discente. Na próxima semana, para fechar (momentaneamente) o assunto, pretendo trazer algumas ideias e propostas de atividades para a sala, que ajudem o aluno a desenvolver habilidades e competências referentes à inteligência emocional.
Vale ressaltar que, no que tange ao livro, o que pego dele é um recorte bem pequeno das muitas ideias e propostas que ele traz para nos auxiliar a desenvolver melhor nossa IE, portanto, convém recomendar novamente a leitura.
Bom, sem mais enrolação, aqui estão as 4 sugestões de ações que tem me ajudado a lidar melhor com emoções em situações adversas e a promover um ambiente pedagógico emocionalmente saudável.
1 – Manter a Calma:
Um dos principais pontos que o livro e outros autores levantam sobre inteligência emocional é a questão da gestão de emoções em momentos de estresse e irritação elevada. Eventualmente estaremos sujeitos a esses momentos, seja no caminho para o trabalho (alguém te fecha no trânsito, ou o caminho está engarrafado e você acaba se), seja com imprevistos do dia a dia. Daí a importância de saber retomar a calma e gerir melhor as emoções antes de fazer qualquer tarefa, principalmente se essa tarefa envolver lidar com a público e se comunicar como educadores fazem.
Como o psicoterapeuta e educador Leo Fraiman comenta em seu livro “Como Ensinar Bem” (já citado e recomendado aqui), se levarmos estresse e raiva para dentro da sala de aula, nossa prática docente fica extremamente prejudicada. Afinal, como podemos promover um ambiente leve, descontraído e propício ao aprendizado se estamos complemente irritados? Além disso, basta um ato falho e impensado em um momento de estresse para expor e/ou traumatizar um aluno que tenha mais dificuldade.
Para nos ajudar nessa questão, Goleman começa desfazendo aquilo que podemos chamar de “Falácia do desabafo”. Imagine que você está dirigindo e um motorista surge do nada e lhe dá uma fechada. Passado o susto, o que costumamos fazer é verbalizar nossa insatisfação com gritos e xingamentos (que podem ou não ser ouvidos pelo cara que nos fechou). Embora isso não resolva nada, é comum dizer “ah, pelo menos eu desabafei, coloquei a raiva para fora”. Porém, o que algumas pesquisas revelaram foi que, enquanto desabafar e falar sobre os problemas pode fazer bem para pessoas tristes e com depressão, para pessoas com raiva o efeito tende a ser o contrário. Verbalizar a frustração tende a retroalimentar a irritação e aumentar a agressividade e o estresse.
Nestes casos Goleman recomenda algumas ações. A primeira é respirar fundo e longamente, buscando desacelerar o coração, reduzindo a pressão sanguínea.
Sempre que possível, buscar situações com gasto de energia como ir para uma breve caminhada, pedalar, nadar ou qualquer outra atividade pode ajudar e muito nesses momentos.
Por fim, tentar colocar os pensamentos ruins e agressivos que surgem nesses momentos, em um formato diferente. No exemplo da fechada no transito, ao invés de pensar “Que pessoa babaca e egoísta, quase me fez bater esse maluco, tomara que morra” podemos tentar reformular e nos concentrar em algo como “Nossa, que susto que essa pessoa causou com sua imprudência. Deve estar com alguma emergência. Pelo menos eu consegui desviar e fora o susto, nada pior aconteceu”.
Pode parecer simplista e bobo, mas esse tipo de postura mental realmente faz a diferença. Já testei várias vezes no trânsito e em outras situações esse tipo de reformulação de pensamento e mudança de foco enquanto respirava fundo, e o estresse da situação desaparecia quase que instantaneamente. E isso não tem nada a ver com ser sempre passivo em situações de conflito. Tem a ver com lidar com as irritações de modo que elas afetem a nós e nosso rendimento o mínimo e pelo menor tempo possível.
2 – Lidar com a Frustração:
Uma das certezas da vida adulta é que teremos momentos na vida onde nossas expectativas não serão correspondidas e ficaremos frustrados. E, diferente das situações de estresse e irritação, o sentimento de frustração tende a ser menos intenso, mas incrivelmente mais duradouro minando nossa capacidade de concentração e elevando a ansiedade.
Nestes casos, o que se recomenda é tentar se distrair. Seja vendo um filme, lendo um livro ou indo a um evento esportivo, o importante é se envolver com alguma atividade instigante/cativante que tire seu foco da frustração em questão. Principalmente quando não há nada a fazer para remediar (como é o caso da maioria das situações frustrantes). E nessa tentativa de se distrair da frustração o que muitos autores e pesquisadores sugerem como atividades mais eficiente são:
Se exercitar: Absorve boa parte da nossa concentração além de promover a liberação de dopamina pelo cérebro, substância associada ao prazer.
Completar pequenas tarefas domésticas pendentes: Ligar para agendar consultas e exames médicos, trocar a cortina que já foi comprada e só falta colocar, furar a parede para colocar aquela prateleira que está na área de serviço há meses. Esse tipo de tarefa nos devolve a sensação de controle na solução de problemas gerando prazer pela tarefa finalmente cumprida.
Ajudar os outros: Fazer o bem e ajudar pessoas com alguma dificuldade ou em momento de necessidade, ajuda a tirar o foco do que está nos frustrando ao mesmo tempo que provoca uma situação onde podemos nos sentir úteis e bem com o que estamos fazendo.
3 – Criticar produtivamente:
Seja em relacionamentos pessoais, sociais ou profissionais, eventualmente temos oportunidade de fazer críticas a outros. E na posição de educadores, esse tipo de situação é ainda mais frequente. O problema é que, dependendo de como formulamos nossa crítica podemos ser incrivelmente agressivos e nada eficiente em promover melhoria na ação do criticado. Por exemplo, ao invés de falar “Suas notas estão baixas porque você está vagabundeando nas aulas e não estuda. Se não der um jeito, vai acabar repetindo. ” Podemos falar “Acredito que com sua postura atual não estamos atingindo o resultado desejado. Eu gostaria que você pensasse mais sobre sua rotina de estudos, principalmente na quantidade de tempo dedicado e tipo de estudo feito, e verificasse se há alguma forma de tornar isso mais eficiente como, por exemplo, aumentando a frequência, fazendo mais exercícios ou com acompanhamento de um tutor. Com relação as aulas, gostaria que pensasse o que pode tornar as atividades mais interessante para você”.
Com esse tipo de feedback a pessoa que o recebe compreende que há algo que precisa ser melhorado sem ficar necessariamente desmotivado ou sentindo-se mal. Pelo contrário, no formato proposto, fica claro o que a pessoa pode/deve fazer para tentar melhorar seu desempenho.
Nesse tipo de situação há 4 coisas que são necessárias para uma crítica positiva e produtiva: 1 – Seja específico, falar apenas “assim não vai dar, se não mudar vai reprovar” é algo muito vago. Mudar o que? Como? 2 – Ofereça uma solução. Nada de “se vire”. Uma crítica sem proposta de nova ação é apenas um ataque e tem pouco efeito produtivo no processo. 3 – Faça cara a cara. Qualquer tipo de crítica e diretriz para correção requer uma conexão para que seja ouvida, aceita e assimilada. E para isso é necessário um contato direto e pessoal. E por fim, 4 – Demonstre empatia. Nenhuma pessoa erra porque quer. Ninguém gosta de errar e a pessoa que está recebendo a crítica provavelmente está frustrada com um feedback que não seja completamente positivo. Tentar entender esse sentimento e se colocar no lugar dela, ajuda a medir as palavras e entender como melhor colocar o que se quer. Tente pensar, se fosse você, como você gostaria de receber aquela crítica.
4 – Promover o Contágio Emocional:
Estabeleça o tom emocional do ambiente onde se encontra. Emoções são contagiosas e boas emoções ajudam a criar um ambiente positivo e elevar o humor de quem nos cerca. No caso de educadores fica claro porque isso é essencial. Por isso, receba os alunos sorrindo, com uma postura leve, amigável e positiva. Isso ajuda a criar um ambiente agradável e os motiva para aprendizagem. Em alguns colégios, os professores ficam em suas salas enquanto os alunos migram pela escola. Nesse tipo de realidade o professor pode usar alguns elementos simples que podem ser de grande ajuda como aromatizadores para deixar a sala com um perfume agradável e músicas animadas (e apropriadas) para dar alegria ao ambiente.
Aqui fica ainda mais evidente a importância de se trabalhar bem as propostas 1 e 2. Afinal, como podemos promover um ambiente leve e positivo se chegarmos ao trabalho irritados, frustrados e estressados? E assim, a partir de uma gestão mais eficiente de nossas emoções, e um ambiente agradável e propício para uma atividade pedagógica saudável e eficiente, podemos realizar algumas atividades que tem se mostrado bem eficiente em ajudar os alunos a desenvolver melhor sua inteligência emocional. E esse é o tema da próxima publicação. Como sempre espero ter contribuído e até semana que vem.
Um comentário em “INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – PARTE II”