Olá, pessoal. Esta semana escolhi falar um pouco sobre algo que foi muito mencionado nas últimas publicações/reflexões sobre a educação para o século XXI que é a Inteligência Emocional. Tida como uma das habilidades fundamentais para um bom andamento da vida profissional, acadêmica, pessoal e social, achei que seria uma boa oportunidade para falar um pouco sobre essa habilidade, do que se trata, como podemos trabalhar para desenvolvê-la e como podemos ajudar nossos alunos a desenvolvê-la.
Meu primeiro contato com o tema foi há 4 anos quando lia um estudo bem interessante sobre “Educação Inclusiva” (pretendo escrever sobre no futuro próximo). De lá para cá li alguns artigos soltos a respeito até que ano passado ganhei de presente o livro “Inteligência Emocional – A Teoria Revolucionária que define o que é ser Inteligente” do psicólogo, jornalista científico e escritor Daniel Goleman. O livro entrou para “a fila” de coisas para ler e essa semana finalmente consegui terminar. É uma leitura muito interessante que eu recomendo, e é a partir dela (e de alguns artigos) que veio a ideia para esta publicação, que terá duas partes. Nessa primeira vou falar um pouco mais sobre o que seria a Inteligência Emocional e seus principais elementos/pilares. Na segunda, pretendo focar nas formas e possibilidades para trabalhar isso em sala de aula.
Bom, mas o que é Inteligência Emocional? Alguns autores e muitos leigos confundem inteligência emocional com “autoajuda” e uma “mera filosofia do pensamento positivo”. E isso não poderia estar mais equivocado. Embora as diversas definições possam divergir levemente na sua construção verbal, conceitualmente todas convergem para a inteligência emocional (IE) como a capacidade de identificar e compreender nossos sentimentos e os dos outros e, a partir disso, gerenciar esses sentimentos e emoções dentro de nós e em nossos relacionamentos.
Assim, podemos compreender a inteligência emocional como a compreensão dos sentimentos, bem como a formação de um repertório para lidar produtivamente com eles. E essa capacidade se faz essencial na criação de um indivíduo apto a lidar com as peculiaridades sociais, emocionais e profissionais da vida adulta. Na verdade, Goleman defende em seu livro que o sucesso profissional de um indivíduo (que muitas vezes se associa a um sucesso pessoal), depende muito mais da Inteligência emocional (que ele mensura por um QE, um Quociente Emocional) do que do Quociente de Inteligência (QI) de uma pessoa. De fato, ele cita exemplos e dados onde as pessoas mais bem-sucedidas não eram necessariamente apenas as que detinham maior QI na época de colégio, e sim as que detinham maior QE e, por consequência, maior capacidade de se socializar ao se relacionar e conectar com os companheiros. Além disso, um estudo encomendado pelo Programa Semente e realizado pela UFRJ em 2017 com mais de 9,6 mil alunos, indicou que o trabalho de habilidades e competências socioemocionais ajuda a melhorar o comportamento dos alunos.
Não é à toa que muitos elementos da IE estejam presentes nas habilidades e competências da BNCC e permeiem todos os debates sobre as habilidades e competências essenciais para uma educação para o Século XXI (como mostra esse especial completíssimo do site Porvir). De fato, na atualidade temos instituições dedicadas ao desenvolvimento da Inteligência Emocional na sociedade como a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional. Mas, para trabalhar IE em sala de aula de modo a auxiliar os alunos a desenvolve-la melhor, precisamos compreender bem do que se trata e, obviamente, trabalhar isso em nós mesmos afinal, como todos os autores apontam, IE é algo que está em construção permanente.
Para ajudar a compreendê-la melhor Goleman, em seu livro, categoriza a inteligência emocional em cinco habilidades (ou pilares): autoconhecimento emocional, controle emocional, automotivação, reconhecimento de emoções em outras pessoas (empatia) e habilidades em relacionamentos interpessoais (lidar com relacionamentos).
Autoconhecimento Emocional: Como já na publicação sobre Neuroeducação, as emoções são respostas fisiológicas (sensações) involuntárias e universais que nosso organismo apresenta a partir de estímulos internos e/ou externos. Já sentimentos são as interpretações subjetivas que fazemos a partir de uma ou mais emoções que sentimos a partir do nosso contexto. Saber reconhecer nossas emoções e sentimentos enquanto eles ocorrem é o primeiro passo essencial para IE. Precisamos entender o que sentimos e experimentamos de emoções a cada estímulo para saber precisamente como isso pode afetar nossas percepções e ações. Se conseguimos compreender melhor tudo isso, podemos tomar decisões mais assertivas.
Uma sugestão de como desenvolver melhor o autoconhecimento seria tirar alguns momentos para refletir sobre emoções fortes que sentimos e colocar em um papel sentimentos e ações associados ao momento para refletir sobre eles com calma posteriormente.
Controle Emocional: Todos passamos por momentos de estresse, ansiedade e frustração. Isso é parte da vida em qualquer faixa etária. Por isso é de extrema importância saber lidar com esses momentos de modo a reorganizar os pensamentos e coloca-los em ordem para uma ação mais cautelosa e produtiva. Pessoas que sabem lidar melhor com suas emoções tem mais chance de lidarem de modo produtivo com conflitos e situações problemáticas.
A sugestão aqui seria tentar evitar pensar nos resultados negativos, buscar um posicionamento otimista e compreender que muitas situações têm diversas saídas que podemos explorar. E em momentos de forte pressão e ansiedade a regra de ouro é encontrar uma forma de manter a calma, que seja uma distração, meditação ou coisa do gênero.
Automotivação: Basicamente é a ideia da resiliência e compreensão madura de seus objetivos e ações que o guiam para isso. O importante aqui é ver suas ações com uma lógica maior do que os pequenos episódios de estresse e frustração e analisar a “Big Picture”. Há uma meta a ser alcançada e pode haver pedras no caminho, mas é preciso compreender que todos os obstáculos são contornáveis e manter o foco no objetivo final. Essa é a parte que é confundida simplisticamente com “autoajuda”. A ideia não é pensar positivamente e esperar mágicas acontecerem, mas sim compreender que focar nos problemas e reveses não é nada produtivo e de nada vai ajudar.
A ideia aqui é tentar ser mais proativo do que reativo em um processo consciente em que se analisa o que sentimos e como podemos nos portar da melhor forma possível na busca de nossas metas e objetivos.
Empatia: Habilidade essencial para quem almeja ser um bom professor, vendedor ou gerente. É a capacidade de reconhecer o sentimento dos outros e se colocar em seu lugar. Com isso é possível compreender os anseios e receios das pessoas para se conectar com elas. Isso nos permite ter boas relações e melhora nossa sensibilidade, ampliando nossa compreensão sobre o contexto em que estamos inseridos.
A dica aqui é a prática da observação e escuta. Ouvir mais e realmente tentar se colocar no lugar do colega para entender a lógica de suas ações é a regra de ouro para desenvolver melhor esta habilidade.
Gerir Relacionamentos: A partir da empatia que nos permite compreender as emoções dos outros, é importante saber lidar com essas emoções. De nada adianta me colocar no lugar do companheiro só para antagoniza-lo. Ao saber reconhecer e lidar com as emoções dos que nos cercam é possível estabelecer conexões e promover um ambiente positivo ao nosso redor. Isso não só melhora a qualidade de vida como nos permite ser mais bem-sucedidos em comunicar nossas ideias e sermos ouvidos em reciprocidade. É a habilidade fundamental que leva a popularidade, liderança e relacionamentos interpessoais bem-sucedidos.
Aqui se faz importante promover um ambiente leve e mais contagiante entre os pares, posicionando de modo mais propositivo e solícito, sempre compreendendo a relevância de cada indivíduo que nos cerca e seu valor em nosso convívio.
As 3 primeiras da lista são consideradas habilidades intrapessoais e, portanto, essenciais para o autoconhecimento, enquanto que as 2 últimas são ditas interpessoais e de imensa importância para: organizações de grupo, negociações de soluções, empatia e sensibilidade social.
Há uma série de resenhas, livros, artigos e cursos sobre como podemos trabalhar para desenvolver melhor essas 5 habilidades e levar esse conhecimento para sala de aula. Para quem deseja se aprofundar mais sobre o tema eu recomendo o próprio livro do Goleman como ponto de partida, bem como alguns vídeos como esse e esse aqui, que fazem uma boa resenha dessa parte do livro.
Vou ficando por aqui. Como sempre espero ter contribuído e até semana que vem.
Alex, muito bom o texto. Parabéns.