Olá Pessoal. Chegamos ao último assunto que eu queria abordar nesta série sobre metodologias ativas, que é o uso de jogos na educação. Antes, gostaria de mencionar que o que procurei aqui foi apenas apresentar algumas das principias técnicas com as quais tive contato o que, obviamente, foi apenas um recorte de toda uma miríade de possibilidades e técnicas dentro desta temática. Agradeço profundamente o feedback que recebi de alguns leitores, e espero sinceramente que este trabalho tenha contribuído de alguma forma para quem dedicou seu tempo para ler.
Bom, falando do tema de hoje, é importante frisar que o uso de jogos na educação não é, necessariamente, o mesmo que Gamificação, como já esclareci neste post sobre o tema. Portanto, hoje quero falar do uso especificamente de jogos na educação (já que é possível gamificar uma aula sem envolver jogo algum).
Jogos representam uma ferramenta interessante e sedutora. É quase impossível encontrar alguém que não goste de algum jogo e, por isso, é perfeitamente compreensível que educadores extremamente bem-intencionados e buscando fazer a diferença vejam no uso de jogos uma possibilidade de motivar e cativar seus alunos para promover um aprendizado dinâmico e significativo. E esta iniciativa é perfeitamente louvável. Porém, infelizmente, seja por falta de recursos ou acesso à informação, são encontrados alguns erros bem comuns na elaboração de jogos educacionais que podem minar completamente essa poderosa ferramenta pedagógica.
Eu mesmo cometi muitos deles no começo da minha carreira, algumas vezes por falta de experiência, outras por me embasar em fontes (artigos e relatos) que cometeram os mesmos erros. E é dessa experiência que retiro os dois principais equívocos ao tentar usar jogos com finalidade educativa.
O jogo deve ser estimulante:
Como o físico e entusiasta de jogos, Marco Antônio ressaltou no seu texto “Como NÃO usar jogos na educação”, uma rápida busca no Google sobre jogos educacionais e o que temos é uma enxurrada de jogos de trilha, que são aqueles jogos que tem um caminho bem simples através do qual o jogador percorre um tipo de corrida, com um pino colorido, usando um dado ou algum outro recurso para avançar. E aí mora o primeiro problema. Este é um dos formatos de jogos mais chatos e desmotivadores que existem, ainda que encontremos algumas raras exceções com nomes como “Perfil”. Se o aluno não tem vontade de jogar, o principal ganho ao se usar essa ferramenta desaparece. E é muito difícil fazer um jogo de trilha ser estimulante e interessante.
É como Marc Prensky diz no brilhante e recomendadíssimo “Aprendizagem Baseada em Jogos Digitais”, jogos devem ser primeiro divertidos (para conquistar o jogador) e depois educativos. Sim, mesmo quem deseja elaborar jogos com objetivos educacionais, a melhor forma de se ter sucesso é pensar primeiro no quão divertido o jogo pode ser e só depois, no que pode ser ensinado com ele. E isso é um desafio, porque inverte a lógica natural do pensamento do educador. Por isso, todo educador que se aventurar pela criação de um jogo educativo deve manter na cabeça a pergunta: “Você jogaria este jogo em casa, com seus amigos? ” Se a resposta for sim, você está no caminho certo.
O jogo deve ser um jogo de verdade:
Muitos dos artigos que li sobre a elaboração deste tipo de jogo (mas muitos mesmo) tem uma similaridade. Eles não são jogos de fato e me levou um bom tempo para perceber isso. São provas e listas de exercício disfarçados. Por exemplo, um jogo de boliche onde, depois de acertarem os pinos, os alunos respondem a uma pergunta da matéria para fazer seus pontos valerem, não é bem um jogo educacional, é só uma tarefa da escola atrapalhando a diversão de jogar boliche.
Adicionar a solução de problemas ou respostas de questões no meio de um jogo qualquer é uma tentativa válida, mas bem ineficiente, de se associar jogos à educação e acaba tendo efeito inverso. Isso porque salvo em jogos de Trívia/Quiz (pergunta e resposta) como “Passa ou Repassa”, responder a uma pergunta ou resolver um enigma/problema, raramente é algo divertido ou parte de uma mecânica de jogos fluida e coerente. E os adolescentes sabem disso e percebem a tentativa forçada de associação. E neste caso, acabam aderindo ao jogo (e muitas vezes dando relatos positivos da experiência) pela mera pressão de fazer aquela tarefa ou agradar o professor.
Um bom termômetro que indica se o jogo foi bem-sucedido em engajar os alunos (e por tabela cumprir o objetivo de promover aprendizado significativo) é tentar observar se eles o jogam mesmo fora do ambiente escolar, por pura diversão.
Mas, apesar deses problemas, muita coisa interessante, divertida e fascinante tem sido feita na área de jogos com intuitos educacionais. Desde jogos de tabuleiro, como o RPG brasileiro “Os Bandeirantes”, até elaborados jogos eletrônicos. Um dos meus favoritos é o Kerbal Space Program: Um jogo online que busca simular um programa espacial. Como o próprio Marco diz: “um simulador de programa espacial onde você pode planejar missões, construir e pilotar foguetes e naves espaciais. Se alguém me sugerisse um jogo com mecânica física realista, em que o jogador precise entender conceitualmente a ideia de efeito Coriolis, mecânica orbital, manobras de transferência, conservação de energia, etc, eu acharia facilmente que tal jogo não venderia uma cópia sequer, nem para a mãe do diretor principal. E ainda sim, esse maldito jogo viciante (que já me tirou felizes 300 horas de jogo), aparentemente, vendeu o dobro que o gigante Call of Duty Modern Warfare na steam. Isso sem qualquer campanha de marketing forte ou um estúdio bem estabelecido! ”.
Além disso, jogos comerciais, sem intuito pedagógico em seu desenvolvimento, podem ser utilizados para promover aprendizado, como é o caso do já citado “Perfil” e, o meu favorito pela simplicidade e diversão que promove, “Timeline” que já expliquei como funciona no post sobre Gamificação e tenho em casa para jogar com amigos.
Por isso, como um bom primeiro passo para quem deseja usar jogos para educar, recomendo fortemente conhecer bastantes formatos de jogos, principalmente jogos de tabuleiros e cartas que são os mais fáceis de se adaptar. No Brasil, temos alguns sites, como o BG Express, que oferecem uma boa variedade de jogos de tabuleiro dos mais diversos temas e mecânicas.
Como sempre, espero que o texto tenha contribuído e até semana que vem com um novo assunto.
Muito bom texto Alex.
Realmente, a simples pergunta de “você levaria esse jogo para casa para jogar com os amigos” é primeiro quesito que tem de ser respondido.
O difícil, no meu ver, é arranjar um jogo que agrade um boa porcentagem dos estudantes.
Por exemplo, um jogo simples (já que o educador não é um programador de jogos) e que poderia dar vontade de jogar em casa (tipo os candycrush, angry birds e aquele jogo do passaro que voa pelos canos do super Mário).
Essa é a dificuldade.