Olá, pessoal, continuando a série de reflexões que permeiam o debate sobre a Educação no Século XXI, hoje vamos falar sobre Inovação. Muito tem se discutido sobre a necessidade de inovar em educação e não faltam metodologias, técnicas, ferramentas, softwares e aparelhos tecnológicos que se dizem com esse propósito.
Alguns exemplos até apareceram por aqui como as plataformas EdPuzzle, Phet Colorado, Socrative, Moodle e Karrot; e os movimentos e propostas de metodologias como o Movimento Maker, a Aprendizagem a partir do Erro e as Metodologias Ativas (Instrução por Pares, Aprendizagem Baseada em Problemas, Aprendizagem Baseada em Projetos, Aula Invertida, Rotação por Estações, JigSaw, Ensino através de Debates, Ensino sob Medida e Gamificação).
Porém, isso tudo representa uma parcela bem pequena do que há de proposta de inovação por aí. E nem me refiro a novidades advindas do desenvolvimento tecnológico como uso de realidade aumentada, redes sociais e elementos de robótica na sala de aula. Estou falando das propostas e ideias de formatos, abordagens, ementas, estruturas e organizações que, desde pelo menos a década de 1960, prometem inovar e revolucionar o ensino e o modo como aprendemos de alguma forma. E, frente a essa enxurrada de caminhos e possibilidades, creio que duas questões se fazem muito importantes.
A primeira é sobre como lidar com um volume tão grande de ideias de modo proveitoso? Os primeiros trabalhos a lidar com esse problema foram inspirados pelo seguinte questionamento: Como podem haver tantos artigos, trabalhos e direções do que pode funcionar e como inovar em educação, e ainda assim as aulas serem bem similares ao que eram há 200 anos? Muitos acreditavam que uma parte do motivo poderia ser a falta de um sumário, organizando e colocando esses resultados em contexto buscando contabilizar evidencias reais de cada um. Em função disso, na década de 1970 surgiu a ideia de meta-análise que é um trabalho onde são analisados diversos estudos, contabilizando a eficiência de cada de cada um em uma medida objetiva comum, de modo que ela possa ser quantificada, interpretada e comparada de maneira mais objetiva. Esse meio de analisar ficou popular e em 1990 quando mais de 100 meta-análises haviam sido feitas.
Neste contexto, surge o livro Visible Learning: A Synthesis of Over 800 Meta-Analyses Relating to Achievement. Nesse livro, o pesquisador John Hattie apresenta uma síntese de mais de 800 meta-analises que ele estudou ao longo de 15 anos, organizando os resultados em relação a diferentes elementos que possam afetar desempenho acadêmico (como situação familiar, atividades laboratoriais, período de férias e afins). Assim, esse livro é, na minha opinião, um excelente ponto de partida e compilado de diversos estudos e resultados organizados de um modo muito bem estruturado, didático e objetivo. Ele vale uma publicação própria (a ser feita assim que eu terminar de ler), mas deixo aqui um TED do Átila (do canal Nerdologia) que apresenta alguns resultados do livro para se ter uma ideia do que foi feito.
Além do grande volume de trabalhos e estudos que existe, outra motivação autor é a seguinte reflexão: A literatura transborda de ideias do “que deveria ser feito”. Não faltam receitas, modelos, sistemas e propostas. São “Escolas modelo”, “Escola laço azul”, “Escola inovadora”, “Escola de aprendizado abstrato” e por aí vai. Todas afirmando que são diferentes e melhores, quase sempre se justificando com histórias de “Escolas Faróis” que inspiram professores, diretores e agentes de mudança, com contos de trabalhos maravilhosos produzidos por alunos, pais felizes e professores capacitados/diferenciados.
Neste cenário, pesquisadores apontam que o maior problema atual “não é a resistência a inovação, mas a fragmentação, sobrecarga e incoerência resultante da aceitação descoordenada e acrítica de muitas inovações diferentes”. E isso nos leva à segunda questão que acho importante considerar ao falar de inovação que é: Qual o valor da inovação em si?
No evento que motivou essa série de publicações (O BEST 2018), o professor e filósofo Clóvis de Barros convida para a seguinte reflexão: “Será que tudo que é novo é bom simplesmente por ser novo? ”. A resposta pode parecer óbvia (não), mas é possível que, na busca por mais eficiência e/ou melhores resultados (sejam eles quais forem), acabemos por abraçar propostas e ideias diferentes (inovadoras), mas que não necessariamente impliquem em melhorias e benefícios. Em meio a um turbilhão de ideias, propostas e novidades é extremamente sedutor assumir que, se há problemas no atual modelo, o que surge de novo deve ser melhor e/ou resolvê-los. Porém, como o próprio Clovis diz nesse vídeo, nem tudo o que fazemos é ruim e precisa ser mudado. Nesse caso, um importante primeiro passo na busca pela melhoria é analisar o valor agregado à mudança proposta pela inovação.
Com essa reflexão, Clovis apresenta uma proposta de inovação que foge da ideia de que tem de ser algo necessariamente novo do ponto de vista cronológico e/ou tecnológico. Ele sugere que, em meio a um cenário onde é frequente o foco conteúdista na preparação para concursos e vestibulares, trabalhar em sala valores como empatia, ética, respeito, responsabilidade, disciplina e resiliência, pode ser uma proposta bem inovadora no sentido mais amplo da coisa.
Assim, a meu ver, ao mesmo tempo que devemos aprender novas plataformas, técnicas e metodologias, é preciso refletir de modo crítico sobre sua eficiência e real benefício. Desde modo, se por um lado ampliamos nosso repertório de habilidades e ferramentas, por outro, exercitamos a cautela e seriedade para evitar confusões e sobrecargas. É um desafio grande e complexo, mas que creio ser necessário para avançarmos de modo construtivo para uma educação mais significativa na era da informação. E, sendo o professor, um dos principais elementos que atuam nesse limiar entre o novo e o tradicional, chegamos a quarta grande reflexão acerca da Educação para o século XXI que é sobre o papel Docente nesse cenário (tema da próxima semana).
Como sempre espero ter contribuído e até semana que vem.
2 comentários em “EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI – #4 – INOVAÇÃO”