APRENDIZAGEM, ENSINO E MITOS

A um bom tempo eu quero fazer uma postagem sobre técnicas de aprendizagem, principalmente focando no que não funciona. Hoje vamos falar um pouco sobre isso e sobre a quantidade enorme de mitos que são passados para frente, muitas vezes inclusive por professores de pedagogia.

E antes de mais nada, é muito importante estabelecermos que existe sim métodos mais e menos eficazes de ensino.

O mundo não é a terra cor de rosa e mágica que muitos dizem, onde todo mundo aprende bem e se você não aprendeu, o único culpado é o “sistema capetalista”. Claro, como absolutamente tudo na vida, o ensino e aprendizagem poderão variar entre pessoas, contextos e épocas diferentes. Algo que funcione para você pode não funcionar para mim, e uma matéria que eu ache fácil pode ser difícil para você.

Mas ainda sim, isso não implica que tudo é igual, logo qualquer método é igualmente válido. E nesse contexto, pesquisas de ensino, pedagogia e sociologia são feitas constantemente para entendermos melhor quais métodos em média funcionam mais do que outros. E é bem óbvio notarmos isso quanto pensamos numa sala de aula de 200 anos atrás, onde o foco em disciplina rígida, hierarquia e principalmente decorar o conteúdo eram o ponto focal da coisa. Esse tipo de sistema não somente ensina habilidades que hoje em dia são ultrapassadas, como mesmo dentro do conteúdo proposto a ser ensinado, ele é desmotivador e ineficaz.

Porém, saltamos para 2019 e temos um oposto radical desse modelo: o aluno nunca precisa se esforçar, cada um tem um ritmo único e imutável de aprendizado, deve-se respeitar quando o aluno não deseja prestar atenção na matéria e todos merecem total independente de suas atitudes ou conhecimento adquirido.

Claro, nem todas escolas funcionam como o descrito acima, mas é surpreendente notar que esse parágrafo deixou de ser uma hipérbole para se tornar a realidade de alguns locais hoje em dia. E apesar dos discursos, a questão central é: o que realmente funciona? Qual tipo de tática ajuda um professor a ensinar melhor em sala de aula? Vamos falar um pouco sobre o que as pesquisas mais recentes dizem do assunto.

Mas tenha em mente que essa postagem é focada no aluno. Independente das teorias pedagógicas ou discursos inflamados, o que teremos aqui são jeitos práticos e úteis para você utilizar se quiser aprender mais facilmente as coisas.

E eu gostaria de começar com um ponto que vai justamente na contramão das tendências atuais: o “Efeito Teste“. E basicamente ele se refere ao efeito de aumento de retenção de um determinado conteúdo quando o estudante realiza testes frequentes desse conteúdo. Ele pode parecer ridiculamente óbvio, mas é uma das coisas mais ignoradas tanto por estudantes quanto professores. Vamos então deixar a coisa clara.

Figura do artigo “Test-Enhanced Learning Taking Memory Tests Improves Long-Term Retention”

Diversas pesquisas, já notaram desde o século XX que a memorização de um novo conteúdo é absurdamente amplificada quando o estudante precisa responder testes sobre o tema com frequência. Exatamente, a realização de micro-provas, testinhos, quizzes, etc vai te fazer memorizar melhor um conteúdo e mais rapidamente. E o que é mais criticado hoje em dia? Testes, provas e perguntas com respostas certas bem definidas (i.e. perguntas onde o estudante pode “errar”).

Mas o ponto é que já se sabe sem sombra de dúvida que a aplicação frequente de testes vai ajudar em muito a retenção do conhecimento. Para se ter noção, trouxe alguns (dos vários) artigos que comprovaram experimentalmente esse efeito: aquie aquie aquie outroe outro da nature.

E algo muito importante a se notar é que esse método não tem a ver com notas. A questão é unica e exclusivamente você se forçar a acessar na memória a matéria que está aprendendo. Inclusive, o próprio aluno pode utilizar métodos como Flash Cards (explicados nessa postagem do blog “Ornitorrinco Curioso”) para realizar seus próprios quizzes sozinho, com o objetivo de aprender melhor a matéria.

E algo muito interessante nesse sentido é notar que o efeito teste é tão poderoso que alguns estudos observaram ser inclusive mais eficaz realizar testes do que ficar lendo a matéria! Isso evidentemente só funciona uma vez que você já tenha lido e conhecido a matéria, mas a partir desse ponto, a chance de você memorizar e entender algo é maior através da prática ativa (responder perguntas) do que simplesmente ficar relendo a matéria. E novamente, isso é o oposto do que frequentemente é posto em prática na sala de aula. Para quem tiver mais interesse nesse assunto, aqui tem alguns links para outros estudos experimentais mostrando a eficácia do método: artigooutro artigooutro artigo e mais outro artigo.

Bem, a postagem ficou mais longa do que o previsto, então vou separar ela em outras, e nas próximas irei falar um pouco mais de técnicas diferentes de estudo e principalmente de técnicas que foram comprovadas e submetidas a testes experimentais. E novamente, o foco aqui é fazer você como aluno entender que existem métodos mais eficientes de estudar. Jeitos mais eficazes e que te deixarão ter mais tempo livre para outras atividades.

Em postagens futuras falaremos sobre alguns mitos e principalmente no mito amplamente divulgado, e que não se mostrou com muitas evidências experimentais de que supostamente existem “aprendedores” com estilos diferentes como visuais, auditivos, escritores, etc. E isso vai muito de encontro ao mito amplamente propagado da teoria das “inteligências múltiplas” que após estudos experimentais, sofreu fortíssimas críticas (críticas inclusive de seu criador, o Gardner), apesar de ainda ser propagado como verdade.

Mas por mais que tais assuntos sejam polêmicos, o foco das postagens (e do blog) é dar ferramentas úteis para que se possa estudar de maneira mais eficaz. E nesse sentido, temos amplas evidências de que se auto-testar, responder perguntas e se focar em exercícios vai ser uma maneira muito eficaz de aprender rapidamente e ter tempo livre para o Lolzinho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *