AVALIAÇÕES

Olá Pessoal. Esta semana escolhi falar um pouco sobre avaliações. Muito tem se falado nos últimos anos sobre as novas tendências educacionais e o aprendizado na era da informação. Aqui mesmo já foi feita uma série sobre metodologias ativas e novas propostas educacionais que refletem sobre o papel do professor no processo de ensino/aprendizagem. E tudo isso implica, invariavelmente, na necessidade de formas diversas de avaliar o aprendizado. Por isso, selecionei aqui algumas ideias de formatos e ferramentas interessantes que tem me ajudado na complexa tarefa de verificar como anda o aprendizado e o desenvolvimento do aluno.

ENEM-1.png

Antes de começar, gostaria de lembrar que o formato tradicional de avaliação, no qual o aluno deve resolver um certo número de problemas em um intervalo de tempo definido, muito usado em concursos, é um formato perfeitamente válido de avaliação e que tem sua funcionalidade, tanto que ainda uso eventualmente. A ideia aqui é apenas sugerir algumas alternativas para que possamos, sempre que possível, oferecer ao aluno diferentes maneiras de verificação de seu desenvolvimento.

Dito isso, acredito ser importante também  trabalhar com o aluno a finalidade das ferramentas avaliativas. Afinal, em uma época em que as tendências apontam para uma educação para autonomia, além de servir como uma ferramenta diagnóstica aos professores, é importante compreender que as avaliações servem ao aluno como ferramenta de auto verificação.

Deste modo, uma vez que se trabalha a heutagogia, se faz importante refletir junto ao aluno sobre a finalidade da avaliação e seu uso, de modo que ele mesmo a perceba como uma ferramenta que atua a seu favor, para ajudá-lo a conferir o que aprendeu com as aulas e atividades acadêmicas, quais lacunas ainda possui e o que precisa desenvolver.

Pensando na avaliação deste modo, apresento a seguir alguns formatos que aprendi/conheci e/ou usei e criei em conjunto com as equipes que tenho trabalhado e  com quem trabalho atualmente. Algumas das ferramentas que vou apresentar aqui possuem um nome e logo própria. A ideia de atribuir um nome e identidade visual a algumas ferramentas avaliativas é uma proposta da equipe com a qual estou trabalhando este ano.  O intuito é usar esse caráter lúdico para desmistificar as ferramentas avaliativas ao mesmo tempo em que promove maior engajamento cognitivo emocional.

Seminários:

FACE_KNOWLEDGE.jpg

Para quem ainda não conhece, seminário consiste em atribuir um tema a um aluno (ou grupo de alunos) para que seja feita uma pesquisa a respeito e elabore uma breve apresentação para o restante da turma. Este formato é um dos meus favoritos por permitir certa liberdade temática (da forma que costumo usar) e avaliar diversas habilidades do(s) aluno(s), como habilidades de pesquisa, planejamento e estruturação de uma apresentação, oratória e habilidades de comunicação visual, além de criatividade. O jeito mais eficiente que tenho usado seminários é escolher temas e tópicos que envolvam aplicações interessantes dos conteúdos trabalhados, preferencialmente inseridos no contexto do aluno. Os melhores resultados que obtive foi atribuindo os temas aos alunos individualmente e/ou em pequenos grupos (duplas ou trios, no máximo), com tempo de apresentação de, no máximo, 10 minutos. Com uma boa escolha de tema é possível promover grande motivação entre os alunos e obter resultados excepcionais, mesmo com apresentações curtas.

Debates:

-professor-motivos-estimular-debate-sala-aula-noticias

Os debates são poderosas ferramentas didático-avaliativas e, além de assumirem diversos formatos, requerem certos cuidados, como já foi dito nessa publicação sobre o tema. Uma das melhores formas que vi do uso de debate como ferramenta didático-avaliativa foi a utilizada pelos meus colegas Cláudio Spada, Fernando Ramos e Amanda Abe nas suas aulas de biologia para tratar de conteúdos da temática “Origem da Vida” com alunos da terceira série do ensino médio. A ideia da atividade era trabalhar as duas principais hipóteses vigentes sobre como os primeiros seres vivos da Terra obtinham energia, as hipóteses autotrófica e heterotrófica. Uma vez que há escassez de evidências que ajudem a definir unicamente qual das hipóteses é a correta, tem-se um cenário amplo e complexo de argumentos e especulações científicas. E para transmitir aos alunos a complexidade e um panorama científico geral deste cenário, a ideia foi promover um debate dividindo a turma em 3 grupos. Um grupo para cada hipótese e um terceiro grupo que funcionaria como mediador e julgador deste debate.

O interessante aqui é que os alunos fariam a autorregulação através do grupo mediador/julgador, que definiria tempo de fala e registrava/julgava os principais argumentos de cada grupo, bem como o comportamento e postura dos grupos em cada etapa da argumentação. Com essa atividade, além de trabalhar o conteúdo de modo abrangente e completo, é possível avaliar habilidades de pesquisa, oratória, construção de argumento, mudanças no discurso (com o uso de jargões e absorção de conceitos), retórica e posturas comportamentais e colaborativas.

Autoajuda

AUTO_AJUDA

Consiste em solicitar/permitir que o aluno elabore uma pequena “cola”, ou seja, um conjunto de anotações curto contendo o que ele considera ser uma síntese do conteúdo, que poderá ser usado para consulta, caso o mesmo deseje, durante a resolução de um breve teste presencial. O importante é que essas anotações sejam construídas pelo próprio aluno (daí a AUTOajuda) e entregue ao final da avaliação junto do teste que ele resolveu. Uma forma de garantir a autoria do aluno é solicitar que o texto consultivo seja elaborado presencialmente, minutos antes da avaliação, com o material que o aluno quiser usar (livro, anotações do caderno, até pesquisa no celular ou computador se tiver disponível).

O intuito é avaliar como o aluno estuda, sua capacidade de síntese e como ele prepara suas anotações. Neste tipo de formato, o foco não é apenas a solução do problema, mas tentar compreender como o aluno está organizando o conteúdo para tentar diagnosticar eventuais problemas no próprio método que o aluno tem usado para estudar.

Raio X da questão

RAIO_X_QUESTAO2

Neste formato, assim como no anterior, o foco é tentar compreender a linha de raciocínio e pensamento do aluno ao tentar resolver uma questão. A ideia é que seja apresentado um problema prático da disciplina, para que o aluno descreva a estrutura da solução. Ou seja, o aluno deve dissecar o enunciado do problema e descrever cada etapa dos processos necessários para solucionar a questão, elencando o que a questão pede, qual a temática da questão no contexto da disciplina, quais informações do enunciado são úteis para a solução e quais ferramentas (se for uma questão prática que envolva fórmulas e modelos) e fórmulas são necessárias para a solução.

Assim se avalia como o aluno interpreta o enunciado e organiza o conteúdo mentalmente, ao mesmo tempo que se tem ideia de como é estruturada a linha de raciocínio do aluno e o ajuda a organizar melhor seus procedimentos. Embora seja bem comum usar esse formato para problemas de Matemática, Física e Química, problemas totalmente teóricos e textuais de qualquer área podem ser dissecados e avaliados neste formato com bons resultados.

Checkflix

CHECK_FLIX

Este formato demanda alguma ferramenta como o EdPuzzle ou similar. De todo modo, já foi publicado aqui um tutorial bem completo de como usar o EdPuzzle, então passemos à ideia. A ferramenta consiste em usar algum vídeo, preferencialmente bem comum, como um trecho de um telejornal famoso ou filme conhecido, e inserir questões que coloquem o conteúdo trabalhado no contexto do trecho assistido. Assim, o professor pode colocar um trecho do jornal nacional sobre previsão do tempo e colocar, durante o vídeo, perguntas sobre geografia e/ou física envolvendo as informações do vídeo. Essa ferramenta ajuda a analisar a capacidade do aluno de compreender os conteúdos trabalhados em um contexto real e aplicado, para além do ambiente de sala de aula.

NanoTeste

N_check.jpg

Consiste em um teste presencial nos moldes tradicionais, porém de curtíssima duração (alguns minutos) e com poucos problemas (1 a 3 problemas). A ideia é que com esse formato mais curto os testes possam ocorrer com maior frequência e ocupar pouco tempo de aula, funcionando mais como um check constante de aprendizagem do que como uma prova formal que costuma ser um evento, comumente temido pelos alunos.

Eu tive contato com este formato através do meu colega Marcelo Goulart e achei extremamente criativo, porque permite fazer avaliação com resolução de problemas (que é necessário para preparar o aluno para concursos e demais avaliações externas que ele ainda pode encontrar) ao mesmo tempo que tira o caráter amedrontador que o teste presencial pode ter, uma vez que dura pouco tempo e pode ser feito com maior frequência, reduzindo o peso que cada teste pode ter na nota final do aluno.

PBL – Aprendizagem Baseada em Problemas

Thinking-Differently-About-Problem-Solving

Já falamos aqui sobre a aprendizagem baseada em problemas e seu efeito na promoção de processo significativo de aprendizagem. Porém, o mesmo formato pode ser usado como uma excelente ferramenta avaliativa que permite analisar a criatividade dos alunos e habilidade de pesquisa, bem como capacidade organização e colaboração.

Um exemplo que usei que se mostrou bem-sucedido foi quando trabalhava hidrodinâmica e a física da aviação com alunos de física aplicada. Para avaliá-los propus um problema onde cada grupo de 5 alunos representava o corpo de engenheiros de uma empresa de engenharia aeroespacial que deveria verificar a viabilidade de se construir um avião que realizasse voos estratosféricos, visando economizar combustível (devido à baixa resistência do ar). Cada equipe deveria apresentar um relatório com análises, estimativas de cálculos, referências bibliográficas e uma conclusão que deveria recomendar ou não a produção de tais aeronaves.

Aproveitando essa menção a uma metodologia ativa, é bom lembrar que praticamente todas elas podem ser usadas de modo bem eficiente como ferramentas avaliativas, desde que sejam estruturadas com esse intuito. Por exemplo, meus colegas Vinícius Carvalho e Frederico Schoene, por exemplo, já usaram Instrução Por Pares como ferramenta avaliativa em suas aulas de química com resultados bem interessantes.

Ainda há muitos outros formatos que podem ser usados, mas o post já está gigante e queria focar, neste primeiro momento, nos formatos que tenho usado com mais frequência e que acho mais interessantes. De todo modo, pretendo fazer continuações porque há ainda muito a cobrir e aceito sugestões de quem quiser compartilhar ideias neste sentido.

Como sempre, espero ter contribuído e até semana que vem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *