SAÚDE MENTAL NA ESCOLA – JOGOS, MINDSET E PERSERVANÇA

Olá, pessoal. Recentemente eu comprei um livro muito interessante chamado “Saúde Mental na Escola: O que os Educadores devem saber” de autoria do Gustavo Estanislau, médico psiquiatra especialista em psiquiatria ida infância e da adolescência e coordenador do projeto “Cuca Legal” que, segundo o próprio projeto: “O Projeto Cuca Legal é uma iniciativa ligada ao Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) que visa à promoção de saúde mental e a prevenção de transtornos mentais em ambientes de ensino, através do desenvolvimento de programas de intervenção baseados em evidências científicas.”

Ainda estou lendo o livro (ou melhor devorando) e desde já recomendo fortemente. O livro traz muita informação interessante que pode ajudar e muito nossa prática em sala de aula de modo indescritível. E ele tem me impressionado tanto que decidi falar na publicação desta semana sobre algumas coisas que aprendi em minha leitura inicial que é a ideia de Mindset, perseverança e jogos e como isso pode nos ajudar a engajar e motivar ainda mais nossos alunos no processo de aprendizagem.

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Mindset

Para começarmos o assunto é importante primeiro definir o que seria o “Mindset”, esse termo que está bastante em voga recentemente e que pode ter uma definição que varia bastante. Aqui, vou usar a definição mais comum em todos os estudos e artigos que li e que combina bem com a definição do livro.

Importado do idioma inglês “Mindset” significa “mind = mente” e “set = ajuste/configuração”. Então, na tradução literal, mindset seria sua “configuração mental”. Mas o que seria essa configuração? Seria, basicamente, a mentalidade que cada indivíduo tem sobre a vida e suas nuances. Em outras palavras, é a forma como uma pessoa organiza seus pensamentos, compreende e interpreta seus estímulos e decide como encarar diferentes situações.

Com um exemplo, fica mais claro. Imagina que, no caminho para o trabalho, o pneu do seu carro fura. Existem diversas modos como você pode interpretar essa situação e isso vai definir como você vai se sentir e até agir a respeito. Você pode ver essa situação como um simples e inconveniente revés que, estatisticamente pode ocorrer com qualquer um e com o qual precisa lidar naquele momento (ligando para o trabalho para avisar que vai se atrasar, arcar com os custos de um novo pneu e etc), ou você pode assumir que esse é mais uma evidência do quão azarado você é e como esse tipo de coisa só ocorre com você e que isso é mais uma evidência de como a sua vida está uma droga.

Note que independente de qual das duas formas descritas acima você escolher interpretar o ocorrido, você vai ter de trocar o pneu ou chamar um guincho (se estiver sem estepe). Mas, em qual dos dois casos, você acredita que a pessoa terá um dia/semana mais produtivo e mentalmente saudável? Essa diferença de uma visão mais realista para uma pessimista da mesma situação depende justamente do mindset do indivíduo.

Acho que aqui fica mais claro como o mindset do aluno é essencial para um bom desempenho escolar cultivando uma boa saúde mental. Se o aluno tem um mindset onde ele acredita que não tem talentos, não possui a mesma inteligência dos demais e não é capaz, sua postura frente a um desempenho fraco em uma avaliação provavelmente não será a de buscar auxílio para sanar as dificuldades acadêmicas e perseverar para recuperar a nota. E aí entramos no segundo termo necessário para o raciocínio de hoje, a perseverança.

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Perseverança

Acredito que todos estejam familiarizados com o conceito de perseverança, que nada mais é do que o ato de persistir, de seguir tentando frente a adversidades. Bom, nesse contexto, o livro (e alguns outros estudos) sugerem que os alunos que tem mais sucesso em alcançar aprendizado significativo com eficiência são os que mais perseveram. Afinal, aprender, dependendo do contexto e do assunto, pode ser algo contra intuitivo e bem desafiador, com muitos reveses e que demanda muito esforço na tentativa e erro. Por isso, nestas situações, é necessário que o estudante seja capaz de perseverar durante o processo, para superar as dificuldades e desafios.

E aí entra a ideia do mindset. O mindset afeta diretamente a perseverança do aluno no processo. Afinal, se o estudante não tiver consciência de que é capaz de aprender determinado conteúdo/habilidade nem ver propósito naquilo, dificilmente ele terá a motivação necessária para perseverar durante o processo.

Por isso, um ambiente saudável e produtivo para promover maior engajamento estudantil e, consequentemente, mais aprendizagem significativa é aquele onde os estudantes são levados a construir um mindset que os permita perseverar por todo o processo. E ai entra o último item de hoje que pode ajudar muito nesse sentido, os jogos.

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Jogos

Já falei bastante aqui sobre jogos na Educação e sobre gamificação. Mas hoje, quero revisitar a ideia da mecânica dos jogos que falei na publicação sobre gamificação para ilustrar como podemos usar essa mecânica/estrutura para promover um mindset de perseverança educacional.

Pare por um segundo e imagine como são os principais jogos (não importa o estilo) eletrônicos (videogames). Sejam de luta, aventura, corrida, etc, a maioria esmagadora deles tem 2 elementos muito importantes: 1 – Eles têm uma dificuldade crescente que acompanha, em média, a curva de aprendizado do jogador. 2 – Existe uma certeza intrínseca no jogador de que avançar no jogo é possível. Vamos explorar estes elementos.

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1 – Dificuldade crescente e curva de aprendizado: Se um jogo começa já na sua fase mais difícil, o jogador avança muito pouco inicialmente e se frustra rapidamente, o que torna o processo desmotivante. Por isso, os jogos têm uma dificuldade crescente, onde o jogador tem feedbacks positivos rápidos e um ambiente relativamente tranquilo onde pode ter sucesso, mesmo sem muito domínio do jogo, enquanto aprende toda a mecânica daquele universo que está explorando.

Assim, a medida que avança o jogador domina os movimentos, regras e particularidades do jogo, sem muita frustração imediata, o que vai, gradativamente, construindo e alimentando seu engajamento com aquilo. Mas, existe alguns momentos onde o jogador eventualmente encontra dificuldades, fases mais complexas e acaba morrendo/perdendo, de modo que precisa tentar novamente. Isso também é necessário, porque é preciso que o jogador sinta-se desafiado, caso contrário pode achar o jogo entediante por ser fácil demais. Porém, é importante dosar a intensidade e o momento deste desafio mais complexo e os jogos mais eficientes em engajar o jogador, são justamente os que acertam nesse momento. E aí, embora o ato de perder seja frustrante, por ocorrer em um estágio mais avançado do jogo quando a história e a evolução do jogo já engajaram e conquistaram o jogador, a tendência é que o jogador persevere para passar aquele obstáculo/fase.

Se fizermos o mesmo em sala de aula, começando com avaliações e atividades de compreensão e execução mais fácil com evolução gradativa, estimulando e desafiando o aluno em alguns momentos mais propícios, é possível provocar o mesmo tipo de engajamento no estudante.

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2 – A certeza da conclusão possível: Certa vez, jogando um jogo eletrônico, passei 18 horas tentando concluir um desafio. Finalmente consegui e tive grande satisfação ao fazê-lo. Mas, neste momento, percebi uma constante que martelava em minha cabeça durante todas as tentativas fracassadas onde eu me inundava de frustração e raiva pela derrota. E o pensamento era: “Impossível, não dá para passar essa fase! ” e nesse instante vinha a vontade de desligar o videogame e ir fazer outra coisa. Mas, imediatamente na sequência vinha outro pensamento: “Na verdade, dá para passar sim, porque ninguém faria um jogo impossível de ser concluído. Então deve ter um jeito de passar essa etapa” e com isso eu tentava de novo.

Independente do jogo que você jogue, uma certeza está na mentalidade de todos: “TODO JOGO É POSSÍVEL DE SER CONCLUÍDO”. E com isso, um mindset é colocado automaticamente em nossa cabeça ao jogar qualquer jogo que vai atuar diretamente na nossa perseverança: “Você consegue, se tentar o suficiente, avançar e vencer este desafio! ”.  Afinal, porque diabos alguém construiria um jogo que não tem solução/desempenho possível em uma dada fase?

O problema é que na vida (e principalmente na educação), são pouquíssimas as pessoas que tem essa estrutura mental de compreender que, independentemente do quão difícil (e frustrante) algo esteja, é possível aprendê-lo se perseverarmos o suficiente. Na verdade, existem educadores que alimentam o mindset (altamente nocivo, ao meu ver) contrário, de que se você tem muita dificuldade em determinado assunto, talvez seja porque você “não é daquela área” com aquela velha e, tenebrosa máxima “talvez você seja mais de humanas” ou “acredito que você é mais para exatas”. Nada pode ser tão pernicioso para um estudante do que esse tipo de crença infundada que alguns educadores irresponsavelmente acabam por alimentar.

O que deveríamos promover é justamente essa certeza que os jogos dão, de que se você tentar persistentemente, eventualmente, vai conseguir superar aquele desafio. Pode ser necessário ajuda (como usamos em alguns jogos, vendo tutoriais), mas isso é parte do processo.

Resumindo, usando uma dificuldade crescente e gradativa (para engajar e motivar) e alimentando a certeza de que com esforço e dedicação, qualquer desafio referente pode ser superado (dois elementos da gamificação), podemos ajudar o aluno a construir um mindset que vai leva-lo a ter a perseverança necessária para avançar de modo eficiente e bem-sucedido no processo de aprendizado.

O desafio agora é usar nossa experiência e conhecimento de área para implementar essa iniciativa em nossa prática docente.

Bom, é isso que eu queria falar sobre esse comecinho que li do livro e, posteriormente, a medida que for avançando na leitura, trago mais do que for aprendendo. Como sempre espero ter contribuído e até a próxima semana.

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